DO GRUPO PINDORAMA PARA A PESQUISA DE LINGUAGEM



           




O Grupo Pindorama (CNPq), reúne artistas, pesquisadores e estudantes de artes, em torno de projetos artísticos que partem de pesquisas em dança e teatralidade na oralidade popular brasileira, com vistas para a produção de discursos artísticos na contemporaneidade. O Grupo desenvolve ações dialógicas entre pesquisa e criação, transcriadas em procedimentos técnicos e poéticos que aliam experimentação prática e  reflexão. O Grupo é sediado no Departamento de Artes Cênicas do Instituto de Artes da Unicamp e coordenado por Grácia Navarro.
            No biênio 2012 e 2013 o Grupo realizou ações desdobradas da literatura dramática de Zora Seljan – “As três Mulheres de Xangô” e “Exú o Cavaleiro da Encruzilhada”. Essas ações desembocaram na ideia sintética de encruzilhada como lugar exponencial do encontro, de centramentos e descentramentos, que reverbera nas técnicas e estéticas que o grupo tem proposto. Esse conceito de encruzilhada é emprestado da pesquisadora Leda Maria Martins - em especial da obra “Afrografias da Memória”. Neste biênio ocorreu a pesquisa e o processo criativo do espetáculo “Ô de casa? Ô de fora!”, que “contaminou-se” da encruzilhada como lugar simbólico de realização sua tecedura dramatúrgica.
            Esse lugar simbólico de convergência e multiplicidade é também o lugar de diálogo entre o artista e seu objeto de estudo, entre a biografia do artista e sua obra, entre Arte e Vida. Esse diálogo revelou um sujeito/personagem singular que amalgama em seu cotidiano, devoções populares – Umbandas e Folias de Reis, realidade e ficção, memória e presentificação, constituindo um personagem que apresenta comportamento cultural de “um brasileiro” dentre as tantas possibilidades de “ser brasileiro” que a pluralidade da cultura nacional promove.
            A encruzilhada demarca também a linguagem do espetáculo, ao aliar elementos da dança e do teatro contemporâneos à estruturas de representação desdobradas do transe/transito na Umbanda e na Folia de Reis. Respectivamente o transito entre o filho de santo e a entidade “Pomba gira”,  e entre o folião e o retorno cíclico anual à Folia,  que é a Folia do presente, mas que ritualmente restabelece o tempo mítico da origem – de uma origem de “além mar” que demarca a parte da cultura brasileira formada por estrangeiros aqui chegados como escravos e imigrantes.
            “Ô de Casa? Ô de fora!” resultou em um espetáculo de linguagem hibrida, refletindo seu processo criativo que reuniu nos laboratórios de experimentação prática a competência das áreas das Artes da Cena – Teatro e Dança; das Artes Visuais – figurinos, ambientes e iluminação; da Música – sonoridades e repertório da oralidade popular brasileira.  

            O hibridismo aqui amalgamado tem uma singularidade que ainda busca uma nomeação quanto a gênero cênico, porque também na constituição da linguagem, guarda a encruzilhada na fusão e ruptura das suas linguagens de origem: Dança e Teatro.

Daniel Santos Costa, Grácia Navarro

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